"Decidi cortar junto com a progressiva todo o preconceito e a repressão que eu levava na cabeça."

27.1.17




"Meu nome é Letícia Ferreira, tenho 20 anos e até dois anos atrás eu não sabia exatamente como era o meu cabelo cacheado.
Não dá pra saber o momento certo em que essa história de ódio com meu cabelo começou, sempre esteve lá da forma mais sutil. O estimulo pra eu não gostar do meu cabelo vinha de toda forma, até camuflada nas brincadeiras de família. Me incomodava tanto escutar todos os dias que eu tinha que arrumar uma forma de 'domar a juba' antes de ir para escola, que eu passei a acreditar que eu realmente precisava disso. É por isso que eu não consigo lembrar e mal tenho fotografias da tal 'juba' solta, pura vergonha. Desde então, nunca mais soltei e isso durou por muito tempo.
A partir dos 13 anos, comecei a passar relaxamento, aos 14 veio a chapinha e então a progressiva, foi aí que finalmente usei ele solto, vi ali a liberdade, certo? Errado! Foi bem ali que começou a prisãoDe uma hora pra outra eu comecei a me privar de coisas que eu sempre amei fazer, como ir à praia, piscina... correr, dançar e fazer esportes? Nem pensar! O suor ia acabar com todo trabalho que eu tive passando a bendita chapinha. 
Além de danificar horrores o cabelo, a progressiva era vingativa, deixava bem à mostra quando não era retocada. Foi aí que, por acaso e por falta de grana, eu passei 6 meses sem dar progressiva. Então, pude ver meu cabelo com um crescimento bom, 4 dedos de ondulação. Na época, eu só tinha uma amiga que tinha decidido parar de dar química e eu achava loucura! Como assim sobreviver sem alisar o cabelo?! Depois de um tempo conversando com ela, resolvi pesquisar mais sobre o assunto, achei um canal no YouTube que foi minha salvação: Apenas Ana. Descobri que o movimento era grande, aquilo tudo tinha nome e eu tava entrando na famosa transição capilar. Só precisei assistir dois vídeos, pesquisei um pouco mais e em uma semana eu fiz o meu primeiro BC (Big Chop). Pulei a transição. Decidi cortar junto com a progressiva todo o preconceito e a repressão que eu levava na cabeça. Percebi que eu não podia nem queria mais esconder minhas raízes, literalmente. 
Já não me importava tanto os comentários maldosos. Havia quem elogiasse sim e dissesse pra não alisar, mas entre tantas coisas negativas que são ouvidas, tanta influência da mídia e falta de representatividade, o que vai pesar mais mesmo?! Exatamente, aquele comentário negativo. Me precipitei fazendo logo o BC? Um tanto quanto. Como eu não tinha passado pela transição direito estranhei horrores. Meu cabelo que era liso e longo, agora estava curto e cacheado, por isso, não me adaptei e tive que passar um tempão fazendo escova e babyliss até me acostumar e ele crescer mais um pouco. Acabei me acostumando mais do que devia com ele liso, novamente, veio o receio de usar ele cacheado e receber críticas. Eu fugia de todo possível comentário que fosse abalar mais a minha autoestima. 
Foi aí que eu encontrei o Dandaraz. Letícia Ramos me chamou, apresentou o projeto e me convidou pra primeira sessão de fotos - eu ainda com o cabelo liso. Papo vai papo vem, Letícia e minhas amigas mais próximas acabaram me motivando a voltar com os cachos, me dei uma chance. No primeiro dia que eu saí de casa cacheada foi difícil. Eu, mais do que ninguém, me estranhava. Esperava escutar alguns "preferia antes", mas decidi que não ia dar ouvidos, tava firme na minha decisão! Para a minha surpresa, recebi elogios de todas as partes, mas, no fundo, não era aprovação que eu precisava. Meu cabelo é parte de quem eu sou! A partir daí, foi só empoderamento e aceitação. Isso tudo vai além da estética, é um movimento lindo e cada vez maior que merece toda voz."













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